Apesar de contar com pesquisadores de peso em vários países, a tipologia linguística ainda é uma abordagem muito pouco difundida no Brasil. Ela teve como iniciador Joseph Greenberg, na década de 60, em trabalhos que buscavam identificar correlações entre fenômenos morfossintáticos. Uma característica importante da tipologia é que ela busca chegar a generalizações obtidas indutivamente, observando as línguas uma a uma para chegar a padrões gerais ou comuns. Ela se afasta, portanto, de abordagens dedutivas, que examinam uma ou um número reduzido de línguas, e a partir delas propõe generalizações que se aplicariam a todas as línguas.
A concepção do grupo é de que o estudo da tipologia linguística requer familiaridade com as línguas de uma forma ampla. Não só familiaridade teórica, à distância, dissecando, mas também uma familiaridade com a utilização dessas línguas, mesmo que em níveis não avançados. Dessa forma, as atividades do TIPOLING incluirão o estudo de línguas de forma mais prática: leitura de gramáticas e materiais didáticos, além do contato com textos de dificuldade crescente, etc.
Uma característica marcante da linguística no Brasil é que ela sofre de uma concentração exagerada no português. Um levantamento feito por um grupo liderado pela Profa. Dra. Olga Ferreira Coelho Sansone chegou aos seguintes dados com relação às línguas examinadas nos artigos publicados no periódico Estudos Linguísticos de 1968 a 2018. A situação não deve ser exatamente a mesma considerando todos os periódicos de linguística do Brasil, mas os dados são ilustrativos do padrão encontrado no Brasil:
Língua
Número de artigos
Porcentagem
Português
2255
81,9
Inglês
97
3,5
Espanhol
68
2,5
Francês
67
2,4
Subtotal
2487
90,3
Total
2755
100
O Brasil tem seu papel na teoria linguística em diversas áreas, mas nossa produção se baseia excessivamente no português.
Nos últimos anos tem havido um aumento da cobrança institucional da internacionalização da pesquisa linguística no Brasil. A concepção do grupo é que essa concentração exagerada no português limita muito o alcance que nossa produção teórica pode ter. Como podemos falar das línguas em geral se só observamos a nossa e um punhado de línguas próximas? Mesmo se considerarmos a pesquisa em línguas indígenas, nossa pesquisa se centra nas línguas faladas no Brasil.
Nossa pesquisa linguística acaba sendo bastante umbigocêntrica e/ou voltada para as línguas econômica e politicamente dominantes no mundo, principalmente no mundo ocidental.
Os linguistas no século XIX (e na 1ª metade do século XX) frequentemente eram versados em várias línguas. Foi havendo uma mudança gradual no perfil dos linguistas em geral de forma que o mais comum hoje em dia é o linguista conhecer sua língua, e talvez o inglês. Qual a justificativa do não interesse dos linguistas em se familiarizar com outras línguas? Um elemento importante provavelmente é o fato de que o conhecimento que temos de nossa língua materna não se compara ao conhecimento que possamos ter de outras línguas. Mas se há essa discrepância, em vez de acentuá-la, por que não buscar atenuá-la? Por que não nos familiarizarmos diretamente com outras línguas, de preferência com línguas com características variadas?
A nosso ver, não há desculpa no século XXI, com a explosão de acesso a informação que a internet trouxe, para que a pesquisa linguística se limite à língua nativa do pesquisador. Se a ingenuidade teórica é algo a ser evitado, a ingenuidade tipológica é igualmente nociva, ou até mais.
OBJETIVOS
O objetivo da constituição do Grupo de Estudos de Tipologia Linguística
- estabelecer no Brasil uma linguística que se baseie nos dois pilares: conhecimento teórico e familiaridade com outras línguas em seus diversos níveis.
- estudar a tipologia linguística e quadros teóricos afins, tais como o funcionalismo e a linguística cognitiva.
- formar subgrupos de estudo de línguas, o que inclui dar subsídios para impulsionar pesquisas de outras áreas, tais como a história ou a filosofia, que poderiam se beneficiar enormemente do conhecimento dessas línguas.
ATIVIDADES PROPOSTAS
- encontros semanais do grupo de estudos para leitura de textos relevantes e comentários do grupo a respeito deles. Os textos desses encontros são textos teóricos de tipologia e textos que discutem aspectos da tipologia nas diversas áreas da linguística.
- apresentação de pesquisas em andamento ou concluídas que tenham um pano de fundo funcional-tipológico-cognitivo.
- sessões de estudo de línguas, famílias de línguas, com conhecimento teórico embasando esse estudo. O objetivo é conseguir chegar paralelamente a uma familiaridade instrumental com a língua e um conhecimento do que motiva o funcionamento da língua nas suas diversas áreas da forma como ele ocorre.